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Desafios na Era Digital

Vivemos numa época de amplas transformações de conceitos e posturas. O desenvolvimento tecnológico e a globalização no mundo moderno representam em ultima análise uma espantosa velocidade na produção, difusão e interconexão dos saberes, onde nada que se faz, se pensa ou se cria, mantêm-se ilhado. Na era digital o acesso as informações é quase ilimitado.

O desenvolvimento da geração atual neste ritmo de crescimento tecnológico acelerado tem afetado de maneira profunda a maneira pela qual as crianças pensam, aprendem, lêem, se socializam e interpretam as informações.

Este mesmo processo acelerado que representa uma intensa expansão da nossa capacidade de processar informações, nos últimos 10 anos vem transformando também radicalmente processos sociais e comportamentais.

A velocidade pela qual tal processo se impõe tem obviamente um preço. De que maneira a globalização e a interface digital impõe as nossas crianças um modelo de relacionamento e interação no qual a comunicação entre pessoas é em grande parte mediada por máquinas? Quais as ferramentas teremos que desenvolver para enfrentarmos de modo mais adequado os desafios da globalização?

Compreender de maneira mais ampla o impacto e os desafios da era digital sobre o neurodesenvolvimento é, portanto, uma tarefa por si só complexa e desafiadora.

Se a interface digital representa alguns riscos potenciais como adição a jogos, a diminuição das atividades que envolvem cognição social, sedentarismo, ênfase na automatização de processos cognitivos e comportamentais, estímulo a manifestações de violência em jogos de vídeo game compartilhados, por outro lado não se pode pensar mais hoje em dia, em abordar o desenvolvimento sem ter-se em conta a mediação e a interface digital da web e das tecnologias que nos mantêm conectados em rede de informações e relacionamentos.

Os desafios da era digital tornam-se ainda mais impactantes quando nos damos conta que tais mudanças ocorreram em menos de 20 anos e foram de tal forma generalizadas, que representam a expressão de uma nova geração que não vê a tecnologia apenas como meio, mas como forma de pensar, raciocinar e ferramenta de expressão de uma nova dimensão da vida pessoal, social e educacional.

O filósofo Marshall Mc Luhan afirmava na década de 70 que o meio é a mensagem no sentido que quando ampliamos o uso de tecnologia na verdade estamos criando uma extensão de nosso próprio corpo, com impactos nas varias dimensões incluindo a do desenvolvimento de maneira irreversível. Tal impacto se traduz por novos hábitos, novos valores e condicionamentos que, por ser muito recente ainda não podemos ter uma quantificação cientifica totalmente estabelecida.

Alguns cientistas sociais referem que a chamada geração X representa os indivíduos nascidos entre a década de 60 e 80, apresentando valores e crenças bastante diversas dos nascidos a partir da década de 80, conhecidos como geração Net ou Y. Enquanto a geração X tinha a busca da individualidade sem a perda da convivência em grupo e a procura da liberdade individual através de rupturas claras com a geração anterior, o lazer coletivo traduzido, por exemplo, na televisão, na sala compartilhada pela família como na abertura dos Simpsons. A geração NET por outro lado está sempre conectada, os indivíduos buscam o lazer não no coletivo, mas no individual, são ávidos por informação fácil e imediata, preferem computadores a livros, digitam ao invés de escrever, vivem em rede de relacionamentos que compartilham tudo como: dados, fotos, hábitos. Estão sempre em busca de novas tecnologias e vêem o trabalhar, o aprender e o divertirem-se como sinônimos.

Compreender de que maneira a revolução tecnológica afeta o neurodesenvolvimento implica em entender também de que maneira o processamento essencialmente visual do mundo digital, aliado à rapidez e a aceleração dos processos viso-motores e automáticos, do pensamento em redes ou hiperlinks afetam a adaptação, a plasticidade e o funcionamento das redes neurais envolvidas com a cognição, mais particularmente com a atenção dividida, a memória, aprendizagem de leitura e a atividade simultânea ou multi-tarefas, que o desenvolvimento da era digital impõe às crianças, adolescentes e adultos. A era digital tem imposto também novos desafios educacionais e institucionais. Como, por exemplo: as necessidades de mudança do currículo escolar convencional que, embora efetivo para a geração anterior, torna-se monótono e pouco motivador para as crianças da era digital.

Substituir padrões antigos envolve a ativação de circuitos cerebrais que integram novos condicionamentos em redes de conexões neurais, e em diferentes graus de plasticidade cerebral.

De que maneira essas novas redes integram os conhecimentos já armazenados por métodos e condicionamentos aprendidos da maneira tradicional ou em que medida os novos processos não apenas incluem o antigo, mas o substitui. O cérebro é plástico no sentido da criação de mudanças de acordo com os novos desafios, mas não é elástico no sentido de apenas acrescentar e acumular informações.

Neste sentido entender a era digital é nos abrirmos para redefinir conceitos e práticas, entendendo as mudanças tanto positivas e adaptativas , quanto os riscos em relação ao desenvolvimento social, familiar e educacional, no sentido de aprendermos e nos prepararmos para lidar com nossas crianças, a fim de que possamos ter um futuro que além de digital, seja humanamente enriquecido.

       

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